Hospedeiros e hóspedes na dinâmica do ECC


DOM ADAIR JOSÉ GUIMARÃES

Bispo de Formosa – Goiás
Assistente Eclesiástico Nacional do ECC

Uma prática muito recorrente nos eventos do ECC - Encontro de Casais com Cristo é a hospedagem. Há uma alegria nessa prática de acolher e hospedar casais e diretores espirituais nos diversos eventos que o ECC realiza mundo afora.

Há de se exaltar as amizades, uniões de oração e afeiçoes profundamente familiares e fraternas oriundas dessa belíssima prática no ECC. Eu mesmo posso testemunhá-la pelas inúmeras amizades e excelentes proximidades com famílias que, em diversos lugares do Brasil, acolheram-me nos eventos do ECC, a saber: encontros da Secretaria; do Conselho Nacional e Congressos Regionais e Nacionais que fazem parte do dinamismo pastoral deste Serviço Escola.

Quando São Bento fundou o monarquismo na Europa, que logo se espalhou pelo mundo, os mosteiros tinham e tem o condão de ser um lugar de acolhida por excelência dos peregrinos desta vida. O grande Santo sempre ensinava aos seus filhos monges o grande axioma: “quando o hóspede chega é Cristo que vem”.

A hospedagem no conjunto das ações e eventos do ECC é tão importante que constitui parte da espiritualidade deste grande serviço da Igreja às famílias. Assim, recorrendo às orientações de São Bento na sua regra, quero aqui destacar este maravilhoso ensinamento que serve para dar alento e fundamentação a esse gesto tão cristão e amoroso: acolher o hóspede como se acolhe o próprio Cristo (Mc. 9, 37).

No capítulo 53 da Regra de São Bento podemos usufruir dos ensinamentos acerca “Da recepção dos hóspedes” que poderão dar mais consistência ao dom espiritual dessa prática e ajudar-nos a mantê-la e até incrementá-la ainda mais.

Nestes tempos de egoísmo, não poucas vezes, somos tentados a viver o individualismo e o isolamento. Isso pode influenciar os diretores espiritais e casais, na ocasião de eventos do ECC, a quererem hospedarem-se num hotel e não conviver com os irmãos que sempre nos acolhem com alegria, seja numa casa de alto padrão ou numa residência humilde. Devemos lutar contra essas tendências que tão facilmente emergem dentro de nos, impedindo-nos de viver a reciprocidade e o crescimento humano e espiritual. O outro nunca será meu inferno, mas meu irmão.

Ensina-nos São Bento no referido capítulo: “Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: "Fui hóspede e me recebestes". E se dispense a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos. Logo que um hóspede for anunciado, corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude da caridade, primeiro, rezem em comum e assim se associem na paz. Não seja oferecido esse ósculo da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas.

Nessa mesma saudação mostre-se toda a humildade. Em todos os hóspedes que chegam e que saem, adore-se, com a cabeça inclinada ou com todo o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles”.

Acredito que poderemos acrescer à nossa prática no ECC de acolher os hóspedes o grande testemunho e prática dos mosteiros e do próprio São Bento. Oferecer ao hóspede o que lhe está ao alcance fazê-lo é uma dádiva de Deus e o hóspede acolher o que lhe é oferecido, seja da parte de uma família abastada ou pobre, completa essa grande dádiva.

A prática no ECC de não usarmos títulos e sermos nivelados na mesma condição de amar e de se deixar amar é fantástica. A interação entre os casais é muito bonita e nasce do Coração do próprio Deus. Assim, na hospedagem oferecida pelos casais do ECC, não haja discriminação e que o rico acolha a hospedagem na casa do pobre e vice-versa sem o mínimo de arrogância e mal-estar, dado que Jesus “não tinha onde reclinar a cabeça” (Mt 08, 20). “Seja incessante o amor fraterno. Não esqueçais de praticar a hospitalidade” (Hb 13,1).

Certa vez, numa das paróquias que atuei, fui participar de um momento com um dos círculos de trabalhos dos casais e vi algo tão bonito no conjunto daqueles oito casais. Coordenava os trabalhos um casal cujo homem era um carroceiro que sempre transportava os materiais de construção da paróquia. Naquele mesmo grupo estava um médico renomado, um advogado, um bem-sucedido empresário do ramo de supermercado e outros. Todos no mesmo nível da importância, cujo destaque eram os testemunhos de como Jesus Cristo havia melhorado a vida de cada um deles depois de vivenciarem o ECC na sua primeira etapa.

Que tenhamos em conta a beleza do ECC como Serviço Escola em favor da evangelização da família e não esqueçamos do que nos ajuda a amar uns aos outros, a estreitar a amizade e a estima que brotam da importância de acolher e hospedar, de visitar e amparar os que sofrem.

Que a Santíssima Virgem Maria que inspirou o Pe. Alfonso Pastore a instituir o ECC para o bem das famílias nos ajude a vivenciar a essência desse serviço que se alça na doação, pobreza, simplicidade, alegria e oração.

“Cremos na vida, cremos na família”! Agradeçamos a Deus pelos 50 anos do Serviço Escola do ECC à família.


 

Dom Adair José Guimarães
Bispo Diocesano de Formosa – GO
Assistente Eclesiástico Nacional do ECC