Santidade, um reencontro com o Mistério Trinitário na Igreja e na família Palestrante: Cônego José Everaldo Rodrigues Filho – Arquidiocese de Maceió




1 - A Bíblia e a Santidade
Desde a Antiga Aliança, realizada através dos Patriarcas, Deus chama o povo à santidade: “Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo” (Lv 1,44-45). O desígnio de Deus é claro, uma vez que fomos criados à sua ‘imagem e semelhança’ (Gn 1,26), e Ele é Santo, nós temos que ser santos também. São Pedro convoca os cristãos a imitarem a santidade de Deus: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd 1,15-16).

2 - Os Obstáculos à Santidade
Buscar a santidade é lutar contra o pecado, pois ele é a grande muralha que nos separa de Deus e nos impede de sermos santos. O Catecismo da Igreja diz, sobre a gravidade do pecado: “Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado, e nada tem conseqüências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (CIgC nº. 1488). Deus disse a Santa Catarina de Sena: “O pecado priva o homem de Mim, sumo Bem, ao tirar-lhe a graça”. São Paulo é muito claro: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6,23). Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é conseqüência do pecado, que começou com Adão. Diz o Apóstolo: “Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rom 5,12). Toda a razão de ser da Encarnação do Verbo foi para destruir, na sua carne, a escravidão do pecado. “Como imperou o pecado na morte, assim também imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5,21). O demônio escravizou a humanidade com a corrente do pecado. Jesus veio para quebrar essa corrente. São João ensina: “Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados´ (1Jo 3,5). ´Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo” (1Jo 3,8).

3 - O que é um Santo?
A Igreja comemora a solenidade de Todos os Santos no dia primeiro de novembro. Os homens e as mulheres que a igreja Católica chama de “Santos”, são milhares, de todas as condições de vida, raças, cores, culturas, países, etc. Uma coisa há em comum: todos: foram heroicamente bons. Os processos de beatificação e canonização são rigorosíssimos e demorados. Esse poder que leva à santidade vem da Redenção que Cristo trouxe. Venceu o pecado, remiu-nos da escravidão do demônio, e deixou-nos a “graça”, e os meios necessários para nos ajudar a ser santos: a Santa Palavra, os Sacramentos, a Oração, a valorização do sofrimento, do trabalho, da família, da penitência, etc. Cristo estabeleceu uma Igreja que tem todos os meios requeridos para fazer os homens santos. Deu a ela o poder de ensinar sem erro, autoridade para fazer leis sábias e santas. O ideal de santidade evoluiu no decorrer dos dois mil anos da Igreja. Passou pelo sangue dos Mártires, pelo silêncio dos Monges e sublimação da castidade, até os dias atuais, em que se busca a santidade na vivência do dia-a-dia, encarnando-se na vida social. Ser santo hoje é aquele que vive a doutrina de Jesus.

4 - Os valores da família
O mistério do homem só se ilumina pela fé em Jesus Cristo (Puebla 319). Orientando a conduta dos cristãos, a Igreja entende ser inviolável a dignidade do homem. Porém, a lei de Deus e os preceitos da moral cristã, não são obstáculos para uma vida livre, plena e feliz. Jesus Cristo veio para que tivéssemos a vida e a vida em abundância (Jo. 10,10). Todo homem busca a felicidade e sente que o amor é o caminho para alcançá-la. A família, o matrimônio, a sexualidade e a procriação estão a serviço do amor. Como nos disse São Paulo: “O corpo não é para a luxuria e sim para o Senhor, porque somos Corpo de Cristo, templos do Espírito Santo; já não mais pertencemos a nós mesmos” (Cor 6,12-19).

5 - Escala da Permissividade
Apesar destes valores conquistados, percebemos uma onda de permissividade e de insinuações sutis, perversas e planejadas, que desorientam a opinião pública e provocam graves desvios na vida familiar e na conduta sexual. As mudanças culturais de hoje abalam valores de uma cultura anterior e deixam desnorteada a consciência de muitos. A esta crise de valores acrescente-se agora uma investida que se propõe a banir toda noção de pecado. A permissividade apresenta-se como libertadora de recalques, complexos e tabus. A experiência de outras nações, porém, e também do nosso País, mostra que ela cria novas formas de servidão. Assim, um imenso dinamismo que poderia ser orientado para a promoção de um Brasil sadio, mais justo e mais fraterno, é consumido em pura perda, levando a um fim melancólico tantas vítimas, especialmente entre os jovens, mais susceptíveis à mentalidade consumista que, erigindo o bem-estar em valor supremo, gera a idolatria do dinheiro e do poder, causa da injustiça e infelicidade social.

6 - Missão da Família: Santificar o Mundo
A Família deve se auto-proclamar como escola de amor, face ao desgaste a que se submete o próprio conceito de amor, núcleo da união conjugal. É a Igreja doméstica, onde Jesus quer ser o hóspede permanente, um templo sagrado onde Deus deve ser glorificado. Os esposos devem se sentir sacerdotes deste templo sagrado e os filhos devem ser educados nesse clima de sacralidade.

O casamento é um Sacramento, um sinal do amor de Cristo à Igreja. O esposo deve se sentir como o próprio Cristo que ama a sua Igreja ao amar e viver com sua esposa e vice-versa. A vida sacramental está ligada à vida sacrifical (o dom de si, participação no sacrifício redentor de Cristo). A solidariedade do homem e da mulher coopera para juntos superarem todas as dificuldades do dia-a-dia.

A família é célula-base da sociedade. Por isso, o matrimônio é uma realidade terrestre, encarnada na cultura e vida do povo e os cristãos devem lutar para que os partidos políticos incluam, em sua plataforma, uma política de bem-estar da família, se propondo a lutar contra os fatores que levam à sua desagregação, criem ou reforcem os mecanismos de integração família-escola, com o intuito de garantir a presença dos pais na educação formal dos seus filhos. Os leigos não devem ser tratados como objeto da evangelização, mas devem ter consciência que são protagonistas da evangelização dos seus filhos. Houve uma época em que a Igreja mantinha o controle social, batismo e casamento foram os eixos para aumentar, o número dos crentes. Nasceu neste tempo uma certa família cristã, cujo reagrupamento formava a Paróquia, uma família de família. Os tempos se modificaram, hoje a sociedade é pluralista, mas o ideal não deve ser enterrado. A família não exerce mais esta função sozinha, deve se integrar na comunidade e nos grupos de base eclesial. É justamente entre as classes populares, seja nos centros urbanos, seja no mundo rural, que surgem as Comunidades Eclesiais de Base, novas formas de relacionamento interfamiliar, geradoras de novos modelos de vida familiar e até de convivência e de estruturação social.

O exercício do diálogo na família é capaz de fazer crescer a união entre pais e filhos. Aviva o amor, inflama a fé e educa os filhos para assumirem futuramente uma família. A valorização da vida humana deve encontrar na família a sua primeira promotora e defensora. Ela deve assumir esta missão unida às organizações civis, sociais, sindicais, das quais alguns dos seus membros participam. Uma consciência crítica cristã deve levar à descoberta das responsabilidades políticas e sociais da família e a ações organizadas com vistas à transformação da sociedade.

É de se registrar o tratamento pastoral dispensado às famílias incompletas, aos divorciados e/ou desquitados que se casam de novo e às mães solteiras. Há uma pastoral de amor misericordioso que não pode ser posta de lado, com a aceitação da condição humana sujeita à fragilidade e ao fracasso, para se evitar que haja dentro da própria Igreja marginalizados e humilhados.

Os Meios de Comunicação Social, em muitos de seus aspectos, são de fato nocivos às famílias, mormente quando lhes falta um senso crítico e uma lúcida perspectiva das exigências da vida cristã. Urge a presença nesses meios, a fim de que o padrão humanizador da Comunicação Social se eleve e não se deixe também de utilizá-la como meio de evangelização. Insista-se que nos Meios de Comunicação Social sejam criados programas e publicações que enfoquem os problemas da família contemporânea, debatam valores cristãos e difundam experiências positivas da legislação e atuação bem sucedidas no campo da política familiar.